O “Medo do Pai” e a Segurança do Trabalho

Como guardiões da segurança é nosso trabalho preservar a vida e a segurança das pessoas. Em nosso dia-a-dia atuamos como observadores incansáveis ao que acontece ao nosso arredor. Somos criticados como “chatos” e muitas vezes as pessoas nos encaram como “fiscais”. Quanto a isso tudo bem, não irá mudar de um dia para o outro pois é um trabalho de plantio de sementes, que pode durar anos para germinar, mas, alguém precisa fazer e nós sabemos os a importância e o impactos desse trabalho na vida das pessoas e nos resultados das empresas.

Muitas vezes, no cumprimento dessa missão, acabamos por nos descuidarmos de detalhes importantes. Como temos essa tendência em encontrar o que está errado, normalmente abordamos os membros de nossas equipes apontando somente os erros; O que faltou, o que deveria ter sido feito. Nós esquecemos totalmente de reconhecer o que estava certo, o que foi bem feito. Outro ponto é que normalmente abordamos alguém quando algo errado nos chama atenção e quase nunca, quando algo bom nos chamou atenção.

Para entender isso é necessário relembrar a diferença entre medo e respeito. Quando uma criança tem medo do Pai, quando o Pai está longe essa criança faz coisas erradas, faz as bagunças que elas sabem que não são permitidas pelo Pai. Isso porque ela entendeu que a ordem só existe quando o Pai está presente. Já quando uma criança que aprendeu a respeitar o Pai mesmo quando ele está longe, ela já entende que aquilo não é correto e portanto ela respeita o Pai e não repete aquele comportamento.

Acredito não ser necessário comentar se já viu esse fenômeno acontecer em Segurança do Trabalho em algum momento, não é? Mas como surge esse medo da criança em relação ao Pai?

Muito provavelmente é que essa criança tenha sido repreendida com críticas fortes e ditas de maneira dura, sem explicação, sem assertividade. Muitas vezes até com uso da violência física. O problema é que isso não gera aprendizado do certo a ser feito, mas sim, de como aquela criança vai repetir o comportamento negativo de forma mais inteligente para não ser pega.

Como já dizia a música do Legião Urbana, Pais e Filhos: “O que você vai ser, quando você crescer?”. Nós todos crescemos e levamos essa “criação” que tivemos para a vida adulta, para nossas relações pessoais e profissionais.

Então em muitos momentos, agimos como Pai “ensinando” através do medo e muitas pessoas agem como o filho que não quer ser pego porque ainda não aprenderam a respeitar as regras.

Muitos estudos psicológicos comprovam que quando não encontramos o reconhecimento de forma positiva, passamos inconscientemente a “tramar” algo para atrairmos atenção de forma negativa. Para agravar ainda mais a situação, somamos isso ao “Medo Pai” a qual comentamos e temos um grande problema que vai contra a criação de uma cultura de segurança sólida baseada no respeito pela vida, pelas regras, pelos procedimentos de segurança.

O pior é que quando decidimos fazer um elogio, temos o péssimo hábito de acreditar que aquele velho “tapinha nas costas”, muitas vezes feito em momentos errados, é um reconhecimento positivo e que funciona. Se não há o hábito de feedbacks positivos entre os membros das equipes, elas não encontram motivação para repetirem comportamentos importantes e que somam para a segurança, elas nunca vão RESPEITAR a segurança de fato. Elas apenas, vão ter medo do “pessoal de segurança”.

Quem não gosta de receber um elogio? Uma pessoa normal sempre anseia pelo reconhecimento positivo sobre algum comportamento realizado por ela. Existe sempre uma busca seja ela explícita ou contida dentro de si. Porque não usar isso ao nosso favor?

Para ganharmos o respeito como profissionais e como representantes da segurança, devemos ampliar nossos estudos em relação a abordagem das pessoas por meio de feedbacks mais assertivos e que tragam resultados. Com esses conhecimentos é possível transformar pessoas em verdadeiras guardiãs da segurança, mesmo quando não estamos perto.